Já era o segundo em três anos que lhe partia o coração. E agora, ali estava ela de novo, com a cabeça entre as mãos, numa tentativa desesperada de conter a raiva e as lágrimas que a dominavam.
Havia muito tempo que jurara nunca mais amar ninguém, mas o destino pregara-lhe uma partida...ele era o mais velho e experiente de todos os que havia alguma vez conhecido. Mal percebeu quando se aproximou dela e a fez sentir-se uma verdadeira princesa.
Toda aquela atenção, todo aquele cuidado, quase paternal, chocaram-na. Ela que já nem a uma carícia estava habituada. Todo aquele desvelo resultou como um estimulante natural, e a necessidade de amor foi mais forte.
Ela deixou que ele a tomasse em seus braços, deixou-se beijar e deixou-se possuir. De facto o sexo com aquele espécime masculino era alucinante. Ora estavam prestes a atingir o clímax num local público rodeados de pessoas, como mais depressa estavam a fazer amor numa cama cheia de pétalas de rosa e imaculados lençóis brancos ao som das suas músicas preferidas.
Era por tudo isto que ela não percebia o que acontecera mais cedo nesse dia. Ele havia-se despedido como sempre fazia antes de a deixar ir trabalhar. Nem sabia como conseguia ir trabalhar todas as manhãs depois de uma despedida daquelas. Mas com alguma persistência lá acabava por se afastar da parede onde ele a encostava numa tentativa de a convencer a mais uma sessão de sexo matinal.
Naquela manhã, depois de muito choramingar lá se libertou dos seus braços e ia seguir diretamente para o trabalho. De facto já estava dentro do carro quando sentiu a porta do pendura a fechar. Era ele!
- Vim dizer-te que já não te quero mais.
Achou aquela, a mais estúpida das brincadeiras, mas riu-se.
- Vá, vá, pára com as brincadeiras e deixa-me ir trabalhar. - Mas ele nem respondeu e saiu.
Ficou a vê-lo afastar-se e nesse momento percebeu que não era uma brincadeira, ele não a queria mais e ela nem ao menos sabia porquê.
Se soubesse o motivo talvez pudesse fazê-lo mudar de ideias. Não era demasiadamente orgulhosa para isso...antes a dor atroz.
"Ouvi dizer que o nosso amor acabou e eu não tive a noção do seu fim, pelo que eu já tentei eu não vou vê-lo em mim, se eu não tive a noção de ver nascer o homem..." O despertador acordava-a agora do mais estranho dos sonhos. Quem era aquele misterioso homem? "...e ao que eu vejo tudo foi para ti uma estúpida canção que só eu ouvi, e eu fiquei com tanto para dar e agora, não vais deixar que eu pague a conta..." o despertador tocava. "...E pudesse eu pagar de outra forma..."Apeteceu-lhe atirá-lo contra a parede, mas limitou-se a desligá-lo, levantou-se de um pulo e voo para o chuveiro. 6 Horas mais um dia que começava!